Fundos de investimento: o que são e como funcionam

Os fundos são um dos tipos de investimento mais comuns no país. Em setembro de 2016, cerca de R$ 3,3 trilhões estavam aplicados em fundos.
É possível que você seja um investidor de fundos e,
ainda assim, tenha alguma dúvida sobre como eles funcionam. Leia este
artigo para entender.
O que é um fundo de investimento?
O fundo de investimento é um mecanismo que reúne o dinheiro de diversas pessoas (chamadas de cotistas) o objetivo final dos cotistas é obter ganhos a partir da aplicação no mercado financeiro.
Tecnicamente,
diz-se que a figura é de um condomínio -
e essa comparação ajuda muito a compreender sua estrutura. O fundo funciona de
maneira semelhante a um condomínio residencial, onde cada condômino é dono de
uma cota (um apartamento) e paga a alguém (síndico ou administrador) para
administrar e coordenar as diversas tarefas do condomínio (jardineiro, limpeza,
porteiro, manutenção de elevadores e equipamentos de academia, entre outros).
Assim como no condomínio residencial, o fundo de investimento possui um regulamento, onde estão estabelecidas as regras de funcionamento que se aplicam igualmente a todos os cotistas.
Ao comprar cotas de um determinado fundo, o cotista aceita suas regras de funcionamento (aplicação, resgate, horários, custos, etc.), e passa a pagar uma taxa de administração para que um administrador coordene o funcionamento do fundo.
Graças
a esta forma de investimento coletiva, é possível aplicar em diversos tipos de
produtos financeiros, com diferentes graus de rentabilidade e risco, sem
precisar de grandes valores. E o mais interessante: você terceiriza o trabalho
de gestão para um profissional. Imagine morar
numa casa, mas manter toda a estrutura de um prédio: portaria 24h, piscina, jardineiro,
academia, elevadores, garagem, portões automáticos. Há uma infinidade de
rotinas a serem cumpridas e problemas a serem resolvidos, e você arcaria
sozinho com o trabalho e os custos de tudo isso. Num prédio bem administrado,
você usufrui dos benefícios sem ter tanto trabalho, e pagando uma fração do
custo, já que é tudo dividido com os demais moradores.
O gestor dos fundos
No fundo de investimento, os gestores são os profissionais responsáveis por gerar rentabilidade e controlar o risco da carteira. Eles acompanham diariamente os recursos do fundo, avaliando as opções existentes, cenários, acontecimentos políticos e econômicos, e possuem poderes para tomar decisões de investimento com o dinheiro dos cotistas (respeitando sempre o regulamento!).
Então, quando você decide colocar dinheiro em um fundo, o que você está fazendo é contratar o gestor para tomar decisões a respeito de onde aplicar o seu dinheiro, e para acompanhar diariamente sua rentabilidade e risco. Por isso, a escolha do gestor é um dos pontos mais importantes na hora de aplicar em fundos de investimento.
Estrutura de cotas dos fundos de investimento
O fundo cria uma camada de separação entre os cotistas (investidores) e os ativos (investimentos comprados). Ao invés de comprar diretamente um ativo, você compra cotas do fundo, e o fundo compra os ativos, seguindo a política de investimento pré-definida. A estrutura de cotas é bastante interessante. É ela que possibilita que todos os cotistas de um mesmo fundo tenham sempre a mesma rentabilidade (dentro das mesmas datas), que o dinheiro de um cotista não se misture com o dinheiro de outro, e que ninguém seja prejudicado ou leve vantagem sobre os demais cotistas.
Estratégia de investimento dos fundos
A ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) divide a indústria de fundos em 10 classes, são elas:
- Renda Fixa
- Ações
- Multimercados
- Cambial
- Previdência
- ETF
- FIDC - Fundo de Investimento em Direito Creditório
- FIP - Fundo de Investimento em Participações
- FII - Fundo de Investimento Imobiliário
- Off Shore
Iremos nos aprofundar nos três primeiros (Renda Fixa, Multimercados e Ações) que são os mais comumente utilizados para investimentos financeiros. Além deles, os fundos de previdência também são bastante utilizados.
Dos R$ 4 trilhões alocados
em fundos no Brasil, quase a metade está em fundos de Renda-Fixa, note a
divisão abaixo:

Nas três classes que iremos estudar mais a fundo (renda Fixa, multimercados e ações) existem subdivisões, cada uma com suas características de alocações. São elas:
- RENDA FIXA: Referenciado DI, inflação e Crédito privado
- MULTIMERCADO: Macro, Crédito estruturado e Investimento exterior
- AÇÕES: Long Short, Long Biased e Direcional
Fundos Renda Fixa
São fundos que investem no mínimo 80% do patrimônio líquido em ativos de renda fixa expostos a variação da taxa de juros (CDI) ou a um índice de preços (IMAB), ou ambos.
- REFERENCIADO DI: Os fundos referenciados DI têm uma política de alocação de 95% do patrimônio em ativos que acompanham, direta ou indiretamente, o CDI.
Ou seja, são fundos que terão um retorno próximo dos 100% do CDI. Por exemplo o fundo CA Indosuez DI Master FIRF Referenciado DI.

Note como o retorno do fundo fica próximo de 100% do CDI em todos os meses e é um fundo com baixíssima volatilidade: 0,13% ao ano. Isso quer dizer que ele varia ao ano 0,13% da média que vem obtendo.
- INFLAÇÃO: Também conhecidos como fundos IMA-B, chamados assim pois tomam como referência o índice de renda fixa IMA-B, o qual representa o desempenho de uma carteira de títulos públicos federais atrelados à inflação.
Ou seja, estes fundos buscam um rendimento semelhante aos títulos públicos IPCA+ (NTN-B).
Exemplo: Sul America Inflatie FI Renda Fixa Longo Prazo.

Essa subclasse de fundos é muito mais arriscada que os fundos Referenciados DI. Note que o fundo vem apresentando uma volatilidade anual de quase 7%.
Porém, da classe de Renda Fixa foram os fundos que mais renderam nos últimos 2 anos (2016 e 2017) pois se beneficiam em um cenário de queda dos Juros.
- CRÉDITO PRIVADO: Por fim, temos os fundos de Crédito Privado, os quais investem em direitos de crédito de empresas com alto grau de investimento.
Vamos
pegar como exemplo o fundo Az Quest Luce FI Renda Fixa
Crédito Privado, a qual está com 50% do Patrimônio alocado em
Risco Soberano (Títulos Públicos) e o restante alocado somente em empresas de
Risco A - Alto Grau de Investimento.

Deste modo, o fundo consegue obter um retorno consistente.
Fundos Multimercados
É a categoria dos fundos de investimento que tem como política de investimento a não necessidade de concentração do patrimônio em determinado ativo.
A equipe de gestão do fundo pode alocar os recursos tanto em ativos de renda fixa, ações, moedas, entre outros, desde que respeitando o regulamento.
- MACRO: São fundos que tem como estratégia a alocação de recursos com base em fundamentos macroeconômicos, são eles: bolsa de valores, taxa de juros, câmbio, investimento internacional, entre outros.
Exemplo: Adam
XP Macro FIC FI Multimercado.

São investimentos que vão almejar um retorno muito acima do CDI, porém terão maior volatilidade na carteira.
Para se ter uma ideia de como os gestores podem alterar a sua carteira drasticamente nessa classe, o fundo apresentado acima estava alocado em Títulos Públicos NTN-B e resolveu mudar a sua estratégia para Bolsa e Moeda Local, ou seja, ele saiu de uma posição de renda fixa e mudou para uma posição em renda variável.
· CRÉDITO ESTRUTURADO: São muito semelhantes aos fundos de Crédito Privado apresentados anteriormente, porém tem uma política de alocação mais sofisticada.
Eles investem em crédito de empresas tanto diretamente como por meio de FIDCs (Fundo de Investimento de Direito Creditórios).
Na escolha deste investimento é fundamental analisar a carteira do fundo, verificar a diversificação setorial para mitigar o risco. Trago como exemplo o fundo XP Crédito Estruturado FIC FIM CP.

Por meio desta diversificação, o fundo consegue obter um retorno alto e consistente (baixa volatilidade). São fundos com uma liquidez um pouco maior (60 a 180 dias) porém entregam retornos próximos a 130% do CDI.

- INVESTIMENTO EXTERIOR: A última classe dos fundos multimercados que iremos tratar são os de Investimento Exterior. Estes buscam rentabilizar os investidores com alocações no mercado internacional.
A maioria destes não tem exposição cambial, eles utilizam de estratégias do mercado financeiro para trocar a variação dos índices - Dólar e CDI.
Estes fundos podem ser de renda fixa global, como é o caso do Pimco
Income FIC FIM IE, ou fundos que buscam replicar a
rentabilidade de algum índice internacional, como é o caso do fundo Western
Asset US Index 500 FI Multimercado, que segue o índice
norte-americano S&P500.
Note como a volatilidade do fundo é muito semelhante a volatilidade do índice que ele segue:

Fundo de ações
Está é a classe mais arrojada dos fundos de investimento. Os fundos de ações direcionam no mínimo 67% do seu patrimônio exclusivamente para ações negociadas na bolsa de valores.
Deste modo, o seu rendimento está intimamente ligado a capacidade da equipe de gestão na escolha correta dos ativos.
Aqui é onde podem estar os maiores ganhos e os maiores riscos!
DIRECIONAL: São os fundos que tem a carteira comprada em ações de acordo com a estratégia que o gestor utiliza, podendo ser esta uma estratégia com base em uma análise fundamentalista, técnica, de valuation, entre outros.
Estes fundos buscam acompanhar/superar o Índice Bovespa (alta correlação).
Exemplo: XP Dividendos FI Ações

- LONG SHORT: Podem também estar na classe dos Multimercados. Coloco ele na classe de ações pois estes fundos utilizam a estratégia Long Short, a qual busca rentabilizar a operação através de distorções encontradas no mercado acionário.

LONG BIASED: Também podendo ser encontradas na classe dos Multimercados, esses fundos lançam mão de estratégias que lhes permitem ganhar com a alta e com a queda no preço das ações. Tudo depende da estratégia e qualidade da equipe de gestão do fundo.

Apresentada as principais classes de fundos de investimentos e dados os exemplos citados acima, faço um comparativo com algumas aplicações muito comuns encontradas no mercado financeiro e também com fundos geridos por grandes bancos como Itaú, Bradesco, Banco do Brasil e Santander.
Tesouro Selic vs Fundos de Crédito Privado
O Tesouro Selic é um dos títulos públicos mais comum encontrado na carteira de investimento de investidores, hoje existem mais de R$ 10 bilhões alocações neste ativo.
A característica deste investimento é render a taxa Selic Over, praticamente igual ao CDI.
Assim, sendo, fiz um comparativo de rentabilidade entre o CDI e
dois fundos de investimento de renda-fixa Crédito Privado: AZ
Quest Luce FIRF Crédito Privado e o AF Invest FI RF Crédito Privado Geraes.

Note como ambos os fundos apresentam uma rentabilidade média próxima de 109% do CDI e com uma consistência de 100%, ou seja, no período analisado em nenhum mês o retorno foi inferior ao CDI. Além disso, os fundos têm a mesma liquidez que o Tesouro Selic.
Tesouro Selic vs Fundos Multimercados
Já para quem tem um perfil Moderado e não tem a necessidade de
uma liquidez diária, poderia utilizar fundos Multimercado como por exemplo: Adam
XP Macro FIC FI Multimercado ou o Bahia AM Maraú FIC FI Multimercado.

Note que mesmo o fundo apresentando uma volatilidade um pouco superior, o retorno a médio e longo prazo compensa, ficando próximo de 200% do CDI.
Ibovespa vs Fundos de ações
Agora apresento um comparativo entre o Índice
Bovespa e os Fundos de Investimento em Ações que citei
acima, note como uma boa escolha dos fundos pode trazer rentabilidades
expressivas superior ao índice de mercado.

Fundos dos Grandes Bancos
Hoje em dia ainda existem muitos investidores que não vão atrás de novas oportunidades de investimentos e acabam mantendo os recursos alocados nos fundos de investimentos de grandes bancos como Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil.
Deste modo, fiz um estudo de rentabilidade dos fundos de investimento com maior patrimônio do Brasil e como estão suas rentabilidades, note no quadro abaixo:

R$ 55 Bilhões estão investidos em fundos de investimentos que rendem em média 76% do CDI, após o desconto de Imposto de Renda (considerando a menor alíquota = 15%) estes fundos estão rendendo MENOS QUE A POUPANÇA.
Em outras palavras, se você investir R$ 1
milhão de reais em um algum fundo citado acima com rendimento de 76% do CDI, e a mesma quantia
nos Fundos de Investimento Renda-Fixa Crédito Privado os quais rendem em média 109% do CDI, considerando
um CDI médio de 8% ao ano.

Tributação dos Fundos de Investimento
Como regra geral, a tributação nos fundos de investimento ocorre
de acordo com a tabela regressiva de Imposto de
Renda, a alíquota vai diminuindo de acordo com o aumento do
prazo:

Já se for um Fundo de Investimento em Ações, a alíquota é de 15% e ocorre somente no resgate.
Além disso, o fundo tem uma peculiaridade em sua tributação: o Come-Cotas. Ele funciona como um adiantamento (parcelamento) do Imposto de Renda.
Ao invés do imposto ser cobrado somente no resgate, ele é cobrado de seis em seis meses, sempre no último dia útil de Maio e Novembro na alíquota de 15% com exceção dos fundos de Curto Prazo que é de 20%.
Quando ocorre o desconto do imposto, a quantidade de cotas que o
investidor tem diminui, por isso do nome Come-Cotas.
Os fundos de Ações não têm come-cotas.
Taxas dos Fundos de Investimento
Os fundos têm taxas para remunerar os prestadores de serviço citados acima (gestor, administrador, custodiante, entre outros). Porém vale ressaltar que a rentabilidade divulgada é sempre líquida de taxas.
Por este motivo que na escolha de um fundo de investimento deve-se olhar sempre a rentabilidade e não as taxas cobradas pelo mesmo.
Vale mais a pena pagar 3% de administração e ter um retorno de 130% do CDI do que pagar 0,5% e ter um retorno de 76% do CDI.
Existem duas principais taxas que os fundos cobram:
Taxa de Administração:
Percentual pago pelos cotistas de um fundo para remunerar todos os prestadores de serviço. É uma taxa expressa ao ano calculada e deduzida diariamente. Afeta o valor da cota.
Taxa de Performance:
Percentual cobrado do cotista quando a rentabilidade do fundo supera a de um indicador de referência. Para os fundos de renda fixa e multimercados o indicador geralmente é o CDI e para os fundos de ações o índice Bovespa.
Risco dos Fundos de Investimento
Existem três grandes riscos de investimento Fundos de Investimentos:
Risco de Mercado:
Este risco está ligado a capacidade da equipe de gestão na correta escolha dos ativos.
Por exemplo, é a queda das ações escolhidas por um gestor do fundo de ações; a queda dos Juros que rentabiliza os fundos de renda fixa atrelados à inflação, entre outros, é um risco que pode ser controlado com uma carteira diversificada.
Risco de Crédito:
É a capacidade de pagamento dos ativos em que o fundo está aplicando. Ou seja, é a possibilidade de não pagamento das Debêntures, CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), CRA que os fundos de Crédito Privado alocam os recursos.
Muitos fundos de renda fixa e até multimercados investem o patrimônio em títulos públicos, diz-se que o risco de crédito é baixo pois quem garante o pagamento é o próprio governo.
Risco do Custodiante:
É o menor risco dos três pois é a possibilidade do custodiante
(cofre) do fundo falir. Por isso é fundamental o administrador
do fundo optar por banco sólidos para guardar os recursos.
Conclusão
